sexta-feira, 10 de novembro de 2006

A Chaleira

"Sabe como se diz 'não me mate' em nigeriano? Aminóplis!"
Era um domingo. Duas horas da tarde. Ríamos muito e ele não achava graça nenhuma, andando de lá para cá, preocupado com o barulho e os vizinhos: "Não gosto de piada!".
A conversa fluía, mais risadas, mais vinho, mais cara feia. O pessoal foi embora - não agüentavam mais beber. Ele, cara fechada. Como ele tinha feito o almoço - delicioso por sinal, apesar da sujeira pela cozinha, área e até das maçanetas -, senti-me na obrigação de ajudar a filha a lavar a louça: "ESTA GURIA NÃO FAZ NADA!!", com o dedo no nariz da pobre. Uma taça a mais, a chaleira na mão, uma idéia na cabeça, sim, sim, sim, claro. O próximo quadro foi o sangue espirrando da testa dele. Devia ter parado aí, mas tinha aberto a torneirinha: pai, padrasto, chefe, mãe, (ex)-sogra, sogra da ex do atual, hora extra, sapos engolidos a seco. Um, dois, três... Já não era eu quem batia. Ele até que foi legal, nem revidou. Sem a chaleira apelei pro murro: doeu mais em mim que nele, literalmente. Tenho que aprender a brigar, as marcas dos dentes ainda estão nos nós dos dedos. Camisa de força improvisada com braços, já que estou no chão por que não um chilique? Daqueles que nunca dei quando era criança: "não agüento maaaaaais!!".
Tremendo de medo, pensando em fazer a mala, agora mesmo estou na rua. Acha? Gamou! Flor, anel, bombom, cafuné e muito respeito que é bom e eu gosto.